Em maio eu resolvi que ficaria muda. Não havia nada mais a ser falado, comentado, contado.
Todo dia, sempre tudo igual. Notícias? Sempre as mesmas: violência, corrupção, desastres......
Minha vida pessoal também sem novidades. Pode haver novidades para uma dona de casa aposentada? O quê contaria? Que aprendi a fazer pão sem glúten e sem lactose?
Não, não estou reclamando, na verdade, bem que gosto de ser do "lar", depois de tantos anos de trabalhos múltiplos, compromissos, horários.
Depois, já havia dissecado minha vida pelo avesso, eu já tinha me escancarado, me desnudado por completo.

Gostaria de ter a capacidade de escrever um romance, inventar personagens, situações mirabolantes, mas não tenho essa verve. Portando, partiu período sabático.
Mas quem gosta e se dedica ao ofício da "escrevinhação", começa a sentir uma coceira nos dedos, sintoma absolutamente desconfortável, não há remédio em nenhuma farmácia para aliviar.
Sabia que precisava voltar, só não sabia como. Blogs de moda, maquiagem, design, crônicas e afins, já existem aos montes.
Então, comecei a me analisar, a garrar reparo no meu marido, nas minhas amigas que reencontrei depois de quarenta anos. Ainda me assusta pensar que quarenta anos se passaram como se passa um dia.
Percebi que, aos cinquenta e sete anos já havia vivido muito mais que a metade da minha vida, que embora a medicina nos prometa uma maior longevidade, ainda assim, estou entrando numa fase que hoje, para disfarçar, chamam de "melhor idade".
Sinceramente, de bacana (bacana?) mesmo só fato de ter me tornado mais seletiva (em relação a tudo), a não calar minha boca, a me posicionar mais diante dos acontecimentos e comportamentos e sobretudo a não ter mais receios sobre o que pensam de mim, se me gostam ou não. Sou o que sou, sem fotoshop feito para agradar meia dúzia de pessoas.
Claro que nem todo mundo encara a terceira idade desta forma. Há quem goste. Em alguns aspectos, até a aprecio, mas no geral, a odeio.
Tenho saudades da juventude, de quando não tinha rugas, cabelos brancos,tinha disposição para enfrentar uma noitada sem precisar dormir vinte e quatro horas seguidas para recompor meu corpinho.
Então, é sobre isso, a passagem do tempo, que resolvi seria o tema deste novo blog.
Ainda não cheguei aos sessenta, mas não falta muito e as mudanças que vivenciamos e que são inevitáveis, acho que darão um bom caldo. Mas sobretudo, penso que, tratando do assunto com o devido respeito, eu possa encontrar mais serenidade.
Bom, cá estou eu de volta, por favor, me acompanhem nessa jornada, dividam comigo suas dúvidas, angústias, soluções.
Juro, vou tentar ser mais otimista, encarar a decrepitude com mais humor, porque sem humor, amigas, aí mesmo é que se ferra tudo.