sexta-feira, 14 de novembro de 2014

RODEI MINHA BAIANA

Não sei de onde saiu esta expressão, mas de vez em quando, ela  me serve muito bem. Gosto muito também de dizer que "subi nos saltos" ou ainda, "que me espalhei".
Tudo isso serve para indicar que meu espírito foi tomado por um demoniozinho, que abri a jaula e deixei a fera sair. É quando fico braba, indignada,revoltada. Viro monstro,Não meço palavras, nem tom de voz e ai do coitado que cruzar o meu caminho, é capaz de levar uma sapatada na cabeça. A sorte é que geralmente ando de salto baixo.
Reconheço, já fui  muito pior, meu nível de tolerância ( e não tem muito tempo) era um grande e redondo zero. Hoje, admito. já alcanço o nível 5, quem sabe, seis.
Mas juro por todos os santos, venho tentando melhorar, ser mais paciente, mais gentil, mais compreensiva com as falhas, má-vontades, preguiças ou grosserias alheias.
Estou tentando ser mais zen, mas ontem, acho que nem um monge do Tibet conseguiria manter a calma. Talvez ele conseguisse se ficasse por horas recitando um mantra de exaltação à paciência.
No início da semana fui ao shopping e entrei nas Lojas Marisas para comprar umas lingeries. Acabei deixando as calcinhas de lado e me encantei com um vestidinho, coisa modesta, desses de se andar em casa, ir à padaria. Pois bem, comprei. Custou a fortuna de R$ 19.99. Como estava com pressa, (jamais saiam com seus maridos para ir ao shopping) não provei o dito cujo. Acreditei que os três quilos que já perdi me dariam o presente de comprar uma roupa tamanho M. Ai dó! Chegando em casa, vesti o bichinho e fiquei parecendo um sacolé de limão.
"No problem", vamos ao shopping e trocamos, tão fácil trocar alguma coisa, afinal, não tinha tirado a etiqueta, tinha a nota fiscal e até a embalagem.
Aproveitei, já que estava lá, para comprar as peças íntimas que estava precisando. Fui então para a fila das caixas. Loja cheia, horário de almoço e só um caixa atendendo. Chegando a minha vez, fiquei sabendo que para efetuar a troca teria que ir ao segundo andar, havia que fazer um vale-troca. No percurso até a escada já avistei uma camisolinha que era o mesmo preço do vestido. Beleza, nem precisava de nenhuma  confusão, era só devolver uma e pegar outra.
Lá em cima, outra surpresa: só uma funcionária que estava atendendo uma "velhinha", tudo por causa de uma prestação de, pasmem,. R$ 12.00.
A dita mulher virou e revirou a bolsa, sacou umas trezentas carteirinhas, uns mil boletos. Ela falando, contando seus problemas para a funcionária enquanto tentava encontrar o quê, eu não sei.
Nessas alturas eu já conhecia toda a história pregressa da senhorinha.
Já cansada, perguntei se não havia outra funcionária. Havia e ela estava chegando. Chegando a passos de cágado, mas chegando.
Bom, pensei, então agora vai. Que nada, a sujeita ficou a escutar o  lero-lero da terceira idade e eu feito uma pateta, grudada no chão.
Olhei para a parede e lá estava um cartaz que dizia: "FAZER TROCAS É MUITO FÁCIL NAS LOJAS MARISA". Fácil para quem, cara pálida?
Quando por fim a velhinha se deu por satisfeita, a funcionária "maria-mole" resolveu me atender.
"É só preencher um formulário". SÓ????? Queriam saber tudo a meu respeito, documentos, endereço, profissão, o que eu havia almoçado, a cor da minha calcinha, etc...etc... e etc...
Nesse ponto minha cara já estava pink e uma baba branca e gosmenta começava a sair dos cantos da minha boca.
Enfim consegui o tal vale e ao me dirigir ao caixa já peguei a camisola.
Novamente outra velhinha na minha frente e de novo, encrencada com carteiras, bolsinhas, porta-moedas, zilhões de papeis. Pressa? Realmente, a criatura não conhecia a palavra. Respeito por quem está na fila atrás de você? Prá quê? Você que espere, ora bolas!
O demônio estava começando a sair de mim e o primeiro sinal é uma coceirinha na cabeça; o segundo sinal é a queda de meus cabelos e o terceiro, bem esse só uma peruca daria jeito.
Antes que eu arrancasse minhas madeixas, perguntei para a velhinha se ela trabalhava. Não, não trabalhava. Mas eu estava cheia de compromissos e a fila atrás de mim só aumentava.
Depois dela ter espalhado tudo o que havia em sua bolsa sobre o balcão resolveram chamar outra funcionária, a mesma maria-mole que veio com os mesmos passos de cágado e a mesma disposição e boa vontade. De pink fui ficando rubra, principalmente porque a criatura queria saber se era para debitar a minha troca no cartão, junto com o que eu havia comprado.
COMO ASSIM??? Já estava pago era só  cobrar as outras peças. Eu já estava fazendo esculturas no meu cabelo, peguei umas tamancas, subi nos saltos e rodei a baiana, gritando a plenos pulmões.
CHAMA O GERENTE DESSA BOSTA!!! Minha educação, minha gentileza, minha tolerância tinham ido para o esgoto mesmo, então meu vocabulário poderia fazer parte da cena.
Larguei tudo, falei um monte de impropérios, inclusive que aquela pamonha, que trabalhava com tanto gosto, se eu tivesse trabalhado como ela, hoje não teria dinheiro para comprar um grampo.
Saí da loja feito um furacão, sem levar nada, mas no caminho pensei: a camisola já está paga. Voltei, me meti no meio da fila, cacei minha camisola e com ela debaixo do braço, ganhei o corredor do shopping literalmente espumando de raiva. Cachorro com hidrofobia perto de mim era pouco.
Por que escrevo sobre isso? Porque eu trato todo mundo com respeito. Se estou numa fila, já tenho em mãos o dinheiro ou cartão ou documentos, tudo para não atrasar quem está atrás de mim.
Mas ninguém conhece mais essa palavra ou esse gesto. A única linguagem que as pessoas parecem compreender é a da baixaria. Sei que é feio, mas paciência tem limites e educação também
De tudo, entre outras coisas, valeu o aprendizado: LOJAS MARISA NUNCA MAIS!!!
Vão atender mal assim lá nos quintos dos infernos.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

TÃO BOM REENCONTRAR PESSOAS QUERIDAS!

OLAVINHO, ESTE POST É PARA TI!

A vida é mesmo uma caixinha de supresas, alíás, uma frase muito verdadeira dita sempre pelos nossos jogadores de futebol! Profundo, muito profundo.Como estou numa fase de busca e apreensão de inspiração (entre outras  coisas) roubei-a de algum jogador da segunda divisão para começar esse post.
Não  que o tema de hoje seja de segunda. Muito antes, pelo contrário, é de primeiríssima qualidade, afinal tem coisa mais gostosa que reencontrar alguém que não víamos há anos, mesmo que seja de forma virtual e saber que ela não nos esqueceu?
Pois é,Ontem ao abrir meu face encontrei uma mensagem de uma professora do curso de design destinada a uma pessoa que fez parte da minha adolescência e que ainda por cima, era meu primo. De terceiro grau, mas primo. Na hora mandei-lhe um recado. Fiquei tão feliz, e não imaginava que assim, muito rapidamente ele entraria em contato comigo. Mas ele o fez.
Gente, ganhei o dia. Embora nunca tivéssemos tido um relacionamento de muita intimidade, sempre nos tratamos com muita cordialidade e porque não dizer, carinho.Estudávamos no mesmo colégio, o Catarinense, em Florianópolis e ele sempre se destacava dos demais por uma particularidade. Tinha os cabelos vermelhos. Não, não aquele tom comum de vermelho, que aqui  chamamos de "mono".
Era um vermelho (digo era porque por não vê-lo há muitos anos, não sei se ele já não está grisalho) digno de uma tintura muito bem feita, em algum salão de beleza de alto nível. Mas não se enganem, não era pintado, era naturalíssimo, herança de nosso bisavô, que segundo a lenda familiar, era belga, aportou no século retrasado nas bandas de Luiz Alves e trouxe na sua parca bagagem de imigrante a belíssima e diferente cor de suas madeixas.
De todos os seus descendentes, não conheci nenhum que houvesse herdado seus cabelos de fogo. Bom, na verdade, nosso tio Nilton, que vinha a ser primo-irmão da mãe do Olavinho, era avermelhado quando pequeno, mas era "mono" e tinha ap ele sardenta, como um ovo de peru. Definitivamente, era um vermelho vindo de uma outra palheta de cores. Diferente de Olavinho, que acredito, se orgulhava de sua cabeleira incendiada, tio Nilton tinha horror a sua e mais horror ainda tinha seu irmão Antônio, que chegava às raias da loucura, pintando os cabelos dele com tinta naquim e claro  provocando um desastre abstrato, quando o calor de Blumenau começo a derrete e escorrer  a tinta pelo rosto, corpo, carteira. Acho que nem jack pOLO

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

TUDO É UMA QUESTÃO DE GOSTO, OU DA FALTA DE.

Sei que o que escreverei aqui dará pano prá muita manga. Provavelmente serei criticada, dirão que não conheço a palavra respeito, que ignoro a liberdade de cada um ser o que e como quiser, enfim, podem me malhar como  malharam Judas na Semana Santa, não me importo.
O senso de estética ou a falta dele acompanha o homem desde que Adão procurou criar um modelito com uma folha de parreira. Não sei se seu intento deu muito certo, afinal nunca soube o tamanho da folha nem o tamanho daquilo que ele pretendia cobrir. Também Eva se deixou levar pelo mundo fashion e acredito que ela tenha tido mais trabalho, pois eram três áreas a serem cobertas e se ela havia aumentado seus peitos com silicone, ai, ai, ai, teria que arrancar folhas de uma parreira inteira.
A estética para mim sempre foi um quesito que me chamou muito a atenção. Talvez por não ser nenhuma beldade, não ter um corpo de miss (elas ainda estão na moda?), a beleza e o bom gosto sempre tiveram muita importância. Futilidades? Não. Aprendi na semiótica que imagem também se lê e se você não sabe do que estou falando procure no Wikipedia, lá com certeza você saberá do que se trata.
Assim, já que não fui muito privilegiada pela natureza, procurei outras formas de me tornar agradável aos olhos alheios.Bom gosto e sobretudo bom senso na hora de me produzir. Nunca fui uma criatura espalhafatosa, nem perua, nem tão pouco uma escrava da moda. Sempre procurei adaptar as tendências com as possibilidades do meu biotipo. Sou e sempre fui barrigudinha, assim, nunca me atrevi a deixar muito exposta minha barriga de peixinho de vala (acho que agora, aos 57, está mais para um baiacú).
Meus peitos, coitados, jamais puderam andar por aí sem o auxílio luxuoso de um bom sutiã.
Já as minhas pernas e meus pés, esses sim, são dignos de estarem expostos em qualquer museu de cera. Sempre tive orgulho deles, mas também não era por isso que ia desfilar minha figura na medina trajando uma saia de 10 centímetros. Um pouco de pejo (eta palavrinha antiga!) não faz mal a ninguém. Assim sou eu, comedida, até demais. Nunca em toda a minha vida usei um fio dental. Digo daqueles fininhos mesmo,  que se não se tomar cuidado pode adentrar no intestino da sujeita. É preciso muito peito, ou melhor, muita bunda, e geralmente elas têm, para usar uma coisica daquelas. Eu sempre tive medo de me aventurar usando um fio de linha, sabe-se lá, um suspiro mais profundo....
Por que resolvi tocar nesse assunto, afinal todos devem ter o direito de usar o que quer e muito provavelmente ao escolher as roupas todo mundo procura se achar lindo.
Ocorre que nem sempre essa máxima é verdadeira. Não estou querendo dizer aqui que as mulheres e os homens também, precisam se vestir na alta costura, com peças carésimas. Não, absolutamente.Às vezes um jeans, um camiseta básica e uma rasteirinha são mais do que suficientes para deixar qualquer um elegante e cheio de charme. Até porque, elegância tem muito a ver com atitude, já dizia minha"ídala" Coco Chanel. O que desejo ponderar é que mesmo não sendo eu um ícone fashion, juro estou cansada de ver meus olhos agredidos pela feiúra, não só pelo feio em si, mas pelo total descompromisso com o bom senso. Vou explicar:
. tudo começa com a gordura. Não entendo, se há uma ditadura em prol da magreza (as modelos e anoréxicas que o digam), por que há tantas pessoas gordas? Claro, porque comem bobagens demais e não queimam calorias suficientes. Eu, se estivesse assim tão acima do peso procuraria não usar uma burca, é claro, mas tiraria partido de roupas que me favorecessem, mas voces já viram o figurinos delas? Em geral camisetas dois ou três números menores, os peitos pulando desesperadamente pelos decotes,a barriga, que mais parece uma massa de pão saindo sem pudor pelas cinturas baixas das calças, de jeans ou muito comumente, leggins com as estampas mais estapafúrdias e coloridas possíveis, isso quando não apelam para a fauna selvagem. Vamos combinar, dá para encarar? . Já sei, voces me cruxificarão: onde está o direito à liberdade??? O que que eu tenho a ver com isso? cada um que se vista como quiser. Mas caramba, eu também tenho direitos e um deles é não me deparar com monstrengos pelas ruas. E não é só pelas roupas não, esse é o menor dos incômodos. Pior que tudo são as loucuras que sobretudo as mulheres vem fazendo em suas caras e corpos. Juro, dá prá tomar um susto e infartar. Antes, cirurgia plástica existia para corrigir o que não estava lá muito bom. Um nariz avantajado, uma esticadinha nas rugas, uma diminuída nos peitos. Agora o padrão mudou.
As criaturas se submetem à intervenções cirúrgicas para imaginem! ficarem FEIAS!!!.
Quem pode achar bonito uma mulher que aumentou os lábios de tal forma que pareceu ter beijado um ferro em brasa? Que beleza pode haver no repuxamento dos olhos até a raiz dos cabelos? ou o aumento das bochechas com bolas de ping pong? E os peitones? Cortam bolas de futebol ao meio e metem--nas debaixo da pele. Vê-se a quilômetros que são falsos. Não meu amigo, nem se atreva a um carinho mais digamos, voluptuoso, você corre o risco de marcar um pênalti.
Posso estar sendo um pouco intolerante demais. Quero deixar claro que não sou contra uns arroubos, umas ousadias, mas precisa ser tanto?
Não pode haver um pouquinho de elegância? Não pode haver um pouquinho de auto-aceitação, bom senso? Não dá para entender um pouquinho do conceito de estética? Não é possível perceber a diferença entre estar na moda e ser vulgar?
Gente, se você teve a coragem de ler este post até o fim e levou minhas considerações a sério, por favor, corra até uma loja de R$ 1.99. Ainda dá tempo. Compre um espelho e se analise, friamente, sem dó nem piedade. E se puder, faça outra coisa por você mesma: leia Constanza, Glorinha, Cláudia e por que não, eu? Não sou expert como elas, mas um pouquinho de bom gosto eu tenho. E depois não esqueçam, nunca, jamais: IMAGEM TAMBÉM SE LÊ! Pensem nisso antes de colocar aquele legging de oncinha com aquela miniblusa de zebra.
Ah! Ia esquecendo: nunca, em hipótese alguma deixe seu marido sair com bermuda xadrez e camiseta listrada. É o Ó!!!

2014 ESTÁ INDO EMBORA

Foi um ano atípico. Desde que me casei, em 2001, meu marido e eu sempre tivemos planos, sonhos, metas. Nada rígido, inflexível, que nos levasse a uma depressão ou a pelo menos uma sensação de fracasso, caso não alcançássemos nossos objetivos propostos.
Não, nunca fizemos listas em nossas agendas, como muita gente faz quando inicia um novo ano.Íamos planejando à medida em que as necessidades ou as vontades iam aparecendo..
Reformar o apartamento? Vamos lá! Construir uma casinha no meio do mato, sem dinheiro? Por que não? Passávamos horas desenhando, fazendo projetos, orçamentos. Cuidar de animais de rua, abandonados? Criamos uma Ong, a Viva Bicho. Viajar na época de Natal, sem a possibilidade de encontrar um só quarto de hotel? Não foi problema, uma barraca e um bom camping resolveram e adoramos a experiência. Na verdade não havia uma programação pré-estabelecida, mas sempre estávamos envolvidos em alguma novidade, que movimentava nossas vidas, nos enchia de expectativas. Claro que muita coisa foi abortada pelo caminho, até porque a vida não tem um roteiro pronto, com começo meio e fim. É como uma novela, uma obra em aberto e muitos acontecimentos, no correr desses anos nos desviaram do curso.
Meu marido é muito calmo, geralmente pondera muito antes de fazer algo. Pensa, repensa, coça a cabeça (hábito que mantém até hoje; às vezes penso que vai arrancar o couro cabeludo), mas quando decide, decidido está. Eu já sou mais movida pelos impulsos. Se quero, quero e pronto, vou em frente, sem ter muita noção de como farei para conseguir. Vou e faço, depois pago prá ver.
Bom,mas a gente muda e durante todos esses anos de casamento fomos adquirindo um pouco das características um do outro. Ele passou a ser mais impulsivo e eu mais comedida.
Ano passado, por exemplo, ficamos sonhando e planejando nossa viagem para Gramado no Natal. Economizamos, eu tinha uma poupança sagrada de moedinhas (olha, juntei uma boa grana). Tínhamos condições de irmos para outros lugares, mas como nossos últimos natais têm sido muito sem graça e eu adoro a magia natalina, nem cogitamos outras possibilidades. Queria ver Papai Noel e lá fomos nós, serra acima, para aquela maravilha de cidade que é Gramado.
Portanto, houve um planejamento, traçamos um objetivo. Também queríamos dar uma repaginada no apartamento e conseguimos. Tudo muito certinho.Esse ano porém, deixamos tudo correr à revelia. exceto o mestrado de meu marido, que já era algo que havia sido previsto  anteriormente. De resto, deixamos a vida nos levar.
Viver ficou mais desorganizado, porém não menos bom. Entre bom senso e impulsividade, ganhou o segundo, até meu marido entrou na dança. Claro que nunca fizemos loucuras com as quais não pudéssemos arcar, mas às vezes saímos apenas para comprar uma bobagem qualquer para a casa e voltávamos com um sofá novo e olha que o nosso ainda estava em bom estado. Começamos a perceber que se antes nossa relação se fundamentava muito em primeiro sonhar e depois pôr em prática o sonho sonhado, agora  resolvemos não deixar a rotina se instalar. Cansamos da sala?  Tudo bem, mudamos o lay out, saímos sem aviso prévio e sem nem saber se vai dar certo, vamos comprando. Não fazemos nem projeto, e olha que somos designers, vamos nos deixando no levar pelos desejos do momento.
Têm dias em que eu vou dormir com uma sala e quando acordo, está tudo mudado, todos os móveis foram trocados de lugar.Insônia de marido faz isso.
Gosto disso. acho que até prefiro uma vida mais cheia de surpresas, de novidades. Sou assim por natureza. Nunca gostei de morar muito tempo num mesmo lugar. Canso do ambiente, tenho o espírito meio cigano. Óbvio que não é possível trocar de casa a cada ano, mas a decoração, ah! essa até que dá.
Mas como já disse, este ano não planejamos muita coisa. Nem sabemos como será nosso natal e reveillon. Também não me importa, deixa rolar. Sei que não iremos para Gramado, mas aonde passaremos, ainda não está decidido.
Estamos assim, à deriva, sem rotas traçadas. Mudo conforme o vento. Até um jardim comecei a fazer nas minhas varanda! E não tenho o dedo verde, muito menos qualquer intimidade com plantas, mas fui juntando um vaso daqui, outro dali e não é que está ficando bonito? Simplesmente aconteceu.
E assim é a vida: acontece. Meu marido aprendeu um pouquinho, não dá para querer estar sempre no leme, o mar nem sempre é calmo, por vezes ocorrem tempestades e alguém cai do barco.
Há perdas e ganhos, sempre, mas esse ano não vou fazer um balanço. Não quero saber de ativos e passivos mas tenho a impressão de que fecharei o ano em azul.


terça-feira, 4 de novembro de 2014

A VIDA NA VELOCIDADE DA LUZ

Olha gente, quero dizer nada não, mas sei lá, acho que o planeta está girando mais rápido que o normal. E confesso, não estou gostando nadinha dessa corrida de fórmula 1 em que o mundo se meteu.
Tudo bem, se ele quer andar numa Ferrari, é problema dele, mas eu ainda prefiro um fusca.
Já há algum tempo, quando trabalhava fora, às vezes por três períodos e ainda tendo que dar conta de casa, marido, filha e cachorros era normal que tivesse a sensação de que meus dias precisavam de mais doze horas, no mínimo. Mas hoje,que já sou quase uma aposentada, que virei uma mulher dita "do lar" (do lar mas não alienada), esse diabo do tempo continua correndo alucinado. Prá quê? Para onde ele vai com tanta pressa? Vai tirar  o pai da forca? Caramba, se ele quer ir assim com tanta rapidez, que vá sozinho, mas me dê o sagrado direito de viver com um pouco mais de calma.
Me dei conta dessa correria, agora a pouco, pintando os cabelos. Não faz dois meses que os pintei e os brancos já tomaram conta da minha cabeça. Além disso, a coloração que antes era platinum blonde, agora já está platinum ovo. Como estava bem pertinho do espelho vi que novas rugas apareceram, já estou até com aquele medonho bigode chinês. Mas pode ser diferente? dentro de vinte e cinco dias faço cinquenta e sete anos! CINQUENTA E SETE!!!! Já não tenho nem mais a metade disso para viver. E pensar que gastei tantos dias sofrendo por bobagens, dando importância para coisas e pessoas que não mereciam sequer um segundo dos meus pensamentos, amando quem nunca, mas nunca mesmo, deveria receber um  palito de fósforo (usado) do meu amor? E nem me refiro aos homens que julguei amar (quanto desperdício, meu Deus!). Refiro-me àquelas pessoas que por destino tivemos o azar de ter como família. Temos sempre a tendência a acreditar que laços de sangue nos obrigam a amar. Grande engano! Ainda bem que descobri com a minha terapeuta que essa é uma ideia equivocada. Antes tarde do que nunca.
Sinceramente, voltando à passagem veloz do tempo, não consigo achar a menor graça em envelhecer.
Esperem aí, um minutinho só, que vou tomar meu remédio de pressão. pronto, já engoli o comprimido que vai garantir que não vou ter um infarto ou um AVC, duas coisinhas ótimas e comuns para quem já está com um pé na terceira idade. Sim, terceira, porque não me venham com essa balela de que a velhice é a melhor idade. Melhor em quê? A memória, por mais que você se esforce, vai sumindo; você passa a fazer coisas que seriam engraçadas se não fossem tristes, como por exemplo, ligar para alguém digitando os números no painel do microndas; descer escadas com salto alto? nem pensar meu bem! Vamos de levador,Saltos altos são assassinos em potenciais de joelhos e têm mestrado em fazer você virar seu pezinho e fazer uma bela luxação.
Academia: desisti. Chegava lá e via dois tipos de mulheres: as jovens boazudas que não precisam pois já são naturalmente favorecidas pela natureza ou por algum cirurgião plástico ou as que  como eu, podem se matar de malhar e não alcançam resultado nenhum. Aliás, mentira: consegui um belo problema na coluna, tudo por conta de um professor que achava que eu devia ter duas melancias no lugar de minha bundinha já um tanto desfalcada de carnes.
Tempo, passe mais lentamente, devagar se vai ao longe e a pressa é inimiga da perfeição. Você não é o coelho da história da Alice. Seja mais condescendente, você não vê que andando na velocidade da luz, tudo perderá o sentido? Você arrancará de nós os mais simples prazeres. Esqueça as horas, os minutos, jogue fora seu maldito relógio. Tempo, se dê um tempo. Vá flanar por aí, vá cuidar de sua beleza, vá ler um bom livro saboreando um café quentinho, aninhado em uma boa poltrona.
Dê um pulinho na praia, sente na areia, aprecie o pôr do sol e a chegada da lua.
Cara, você está muito chato! o que é que é? Está correndo tanto que é para o mundo acabar logo?
Tudo bem, concordo com você, o planeta está mesmo precisando de uma repaginada, mas talvez não seria o caso de você desacelerar um pouco? Quem sabe isso teria influência sobre as pessoas? Afinal as fases lunares não influenciam as marés, os partos?
Meu pai eterno, enquanto fico aqui a discutir com o tempo nem percebi que preciso tirar a tinta da minha cabeça, sob o risco de ficar careca e por incrível que pareça, a única coisa que demora a passar é o crescimento dos cabelos. Vá entender!  

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

DESEJOS

Mais uma vez vou me apropriar , ou melhor, me inspirar num texto de minha amiga "íntima", Danuza.
Diz ela que "não desejar é a morte em vida". Concordo.
Óbvio que nem tudo o que desejamos, alcançamos, mas de certa forma, a vida só é vida porque estamos sempre desejando algo, sobretudo e fundamentalmente, desejamos a vida eterna. Desejo totalmente impossível, vamos cair na real e nos contentar com o que podemos ter e nos conformar com o que não podemos. Bem menos complicado levar a vida com essa constatação.
Eu, assim como todo mundo, tenho os meus desejos, os meus sonhos, as minhas metas. Muito do que quis ficou apenas no querer, porém não posso reclamar, de certa forma consegui muito do que almejei.
Dentre todos os desejos, o maior, pelo menos enquanto eu era jovem, era conhecer Paris. Consegui, e o que é melhor, aliei meu sonho a outro sonho: o de viver um grande amor na cidade dos amores.
A única coisa que não levei em consideração é que Paris também pode ser a cidade do desamor. Para mim foi.Então concluo que sonhei ou vivi pela metade.
Digo a voces: jamais, jamais mesmo vão a Paris quando estiverem com o coração dilacerado por uma dor de amor. É preferível curar-se dessa doença chamada de abandono ou rejeição enfrentando um bom tanque cheio de roupas para lavar, aguentar o calor de um ferro enquanto você passa as roupas que lavou junto com a água da torneira e suas lágrimas. Melhor ainda, faxine, faxine muito, de manhã à noite fique grudada na vassoura, no aspirador, no esfregão. Você verá que o trabalho é o melhor remédio: o tempo passa, você pode se dar ao luxo de não tomar nem um comprimidinho para dormir porque seu corpo estará tão exausto que é bem capaz de você adormecer enquanto escova o tapete.
Além do que, você manterá a forma e quando menos perceber, além de ter superado o sofrimento, ainda estará em forma e nem precisou gastar em academia. Sem saber você economizou para gastar em Paris, quando então você ir, já loira, linda, japonesa e magra. Sim magra, pois enquanto se esfalfa em esfregar o chão com suas lágrimas, nem pensará em comer, mania muito comum de quem está na 'fossa",( essa foi de matar, mais antiga impossível).
Bom, voltando a Paris, se este for o seu sonho dourado, só vá quando os seus olhos estiverem secos, quando o coração estiver cicatrizado. Não pense que a cidade luz vai servir de medicação ou mesmo de psicoterapia. Paris existe para pessoas felizes, sozinhas ou acompanhadas, mas de bem com a vida.
Eu fiz a bobagem suprema de viajar para lá me sentindo pior do que sola de sapato de mendigo furada em dia de chuva.
Tudo bem, é verdade que gritei de emoção quando vi a Torre Eiffel toda iluminada, mas confesso, tinha medo de atravessar uma das tantas e tão românticas pontes que cortam o Sena. Corria o risco de me jogar de uma delas. Ainda se caísse dentro de um bateau mouche, vá lá, mas no Sena praticamente congelado? Se não morresse afogada, ficaria no mínimo dura igual um picolé. Seria muito mico para pagar num país tão cheio de glamour.
Não, não foi uma boa experiência e discordo totalmente de quem diz que vale mais a pena sofrer em Paris do que na beira de um tanque aqui no Brasil.
Portanto, caros amigos, esse desejo não foi realizado a contento, mas não pensem que desisti dele.
Vou voltar, com certeza, só que agora como de fato sempre quis: viver Paris com um grande amor, o maior da minha vida, que por sinal vai muito bem, obrigada.
Posso não me hospedar no George V ou no Ritz (aliás, não foi de lá que Diana saiu para morrer no túnel d'Alma?) Credo em cruz! já vou ficar bem contente com um hotelzinho ali pelas bandas de Saint Germain, desde que tenha pelo menos uma pia e um vaso sanitário no quarto.
E não quero ir no inverno, até porque meu marido odeia frio. E como a temperatura estará agradável, nada me impedirá de viver um milagre. Poderei sair lá pela meia noite, entrar em um carro e encontrar com todos os artistas que fizeram de Paris uma festa no início do século passado. Seria pedir demais????


VIVER É MUITO COMPLICADO

Casimiro de Abreu, por favor, volte das profundezas do céu ou do inferno, não sei, afinal não lhe conheci pessoalmente, e venha repetir para mim: " ai que saudade que eu tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida, que os anos não trazem mais"!
Eu sou apenas uma mulher latino americana, com mais de cinquenta anos, com algum dinheirinho no bolso, sem parentes (importantes ou não) e que vive no interior cheia de medos. Olha eu aí plagiando o Belchior! Eta nós!
A verdade é que levantei hoje sem um assunto definido para escrever. Costumo acordar cedo, (também durmo mais cedo que antigamente, coisas da idade, acho) e é esse o horário em que minha cabeça está mais fresca, mais poluída de ideias, então, rapidamente, entre uma xícara de café e um pedaço de mamão, aproveito para exercitar meus dedos nas teclas do computador.
Geralmente já tenho um assunto previamente definido, mas hoje, nada. Cabeça vazia.
Não que não tenha sobre o que escrever, afinal, vivemos num mundo em que não faltam principalmente desgraças sobre as quais podemos discorrer.Pensei, pensei e tornei a pensar e de repente, não mais que de repente, me veio um insight; Estou com medo de viver. Explico.
Não, já nem considero o medo da violência criminosa, essa já faz parte do nosso dia-a-a dia.
Quem de nós não faz de suas casas verdadeiras prisões? Não, eu estou com medo da COMIDA.
Gente, comer não deveria, ser mais do que um ato de nos nutrir, um prazer? Cresci  e acredito que os da minha geração também, comendo de um tudo, e que tudo! De goiaba tirada do pé, a chocolates, bolachas, refrigerantes, arroz branco, leite tirado da vaca, conservas enlatadas, pães de trigo, etc, etc, etc....
As vitaminas vinham dos próprios alimentos. Os únicos remédios que tomávamos era, como já mencionei, o miserável Emulsão de Scott ou Sadol, que era para abrir o apetite.
E hoje, o que comemos? Pai eterno da misericórdia francesa! Tenho medo de abrir meus armários e minha geladeira. Açúcar magro, sal sem sódio, arroz integral, linhaça dourada, farinha de aveia,  folhas verdes para fazer suco detox, ovo? só para fazer omelete de claras, verduras orgânicas, leite e derivados sem lactose, macarrão de arroz, porque não tem glúten e dezenas de potes cheiosde bagas milagrosas de colágeno, de todos os tipos de vitaminas, uma verdadeira farmácia.
Procuro entre as embalagens alguma coisa que dê prazer ao meu paladar, mas só encontro caixinhas de pudim e gelatinas diets, que têm gosto de remédio.
Mas ontem me rebelei. Dei um grito de liberdade ou morte em pleno supermercado.
Já entrei no dito cujo procurando evitar as prateleiras atulhadas de tesouros gastronômicos. Fui caminhando pelos corredores, aqueles permitidos, enchendo o carrinho de produtos que prometem uma vida mais saudável e mais longa. Ultimamente até os rótulos eu costumo ler; preciso saber a quantidade de sódio, senão minha pressão vai até a estratosfera, também tenho que saber se a bolachinha tem leite, porque estou com intolerância à lactose, então tá, vamos procurar algo que seja feito com soja.
De repente me deu um surto de loucura. Larguei o carrinho e disse CHEGA!!! Quero comida, comida de verdade, com sabor, cheia de coisas proibidas, mas tudo bem, posso até morrer depois de comer uma torta coberta de creme, mas vou morrer de barriga cheia e sobretudo, feliz.
Que me adianta viver até os cem anos comendo farelo?
Que diabo de ditadura é essa que nos obriga a ingerir alimentos que podem até nos fazer bem organicamente, mas que fazem das nossas refeições um velório. Tem coisa mais deprimente que a cor de um arroz integral? Lembra a coloração de um cadáver. Você já viu um? Se ainda não viu corra até um cemitério e garre reparro: é igualzinho.
Assim, mandei a culpa (sim, porque a danada vem e nos cobra bom senso), para aquele lugar que não vou escrever porque sou uma mulher educada e me atraquei numa torta, num pote de sorvete italiano, num panetone (recomendo o da Casa Suíça. Inigualével), numa garrafa de Coca Cola, num pacote de pipoca de microndas e de tudo o que há meses venho me privando.
Cheguei em casa faceira e nem dei tempo para abrir as sacolas e guardar as guloseimas. Já fui abrindo tudo e de tudo comendo com ganas um ou vários pedaços.
Um dia Senhor, dá-me pelo menos um dia de prazer absoluto.
Como era dia de finados, fiz uma homenagem aos meus mortos,lembrei que meus avós morreram velhinhos e nunca se preocuparam em não comer um bom torresminho (quem pensava em colesterol?); minha mãe, que morreu ano passado comeu tudo o que teve vontade. É verdade que tinha somente 76 anos, muito aquém da expectativa de vida atual; minha tia que se foi esse ano também nunca abriu mão dos quitutes que gostava e olha que ela partiu com 88 anos. E vou contar um segredo: fui a última a vê-la antes de entrar em coma e sabe o que ela me disse? "Ana Luiza, vamos fumar um cigarrinho"? Foram suas últimas palavras antes de ir para a UTI.
Vejam bem, não estou aqui a fazer apologia ao abuso  gastronômico. Sei bem dos benefícios de uma alimentação e hábitos saudáveis e juro, tenho conseguido me manter na linha.
Mas convenhamos, um pecadinho vez ou outra não vai nos matar. Não precisamos nos privar de tudo sempre, pois falta de prazer leva à depressão, à tristeza, e nesse caso é bem provável que você substitua seus potes de vitaminas por outros de anti-depressivos.
Moderação, essa é a palavra chave. De vez em quando abra uma exceção, se permita sentir a tal felicidade e caia de boca num pote de sorvete.

domingo, 2 de novembro de 2014

AH, COMO AS MULHERES MUDARAM!!!

Era pequena quando o mundo um dia acordou com um barulho ensurdecedor tomando conta das praças, das ruas, entrando pelas janelas e portas das casas. Foi um espanto, um Deus nos acuda, onde já se viu, mulheres, sim, mulheres gritando a plenos pulmões, exigindo seus direitos e principalmente, tirando e queimando seus sutiãs, assim, despudoradas, botando os sagrados seios para fora, para que todos os vissem e soubessem que não, eles não são mamadeiras coladas nos corpos.
Eu era criança mas não era boba, sabia que alguma coisa estava acontecendo e era algo que nós crianças, não devíamos tomar conhecimento, afinal, as revistas traziam centenas de mulheres desnudas, não em poses de Playboy, mas posição de guerra. Guerra aos homens, luta pela liberdade feminina, que chegava junto com o movimento hippie, com a Guerra do Vietnã, com o amor livre que agora podia sim ser livre, pois descobriram a pílula e a mulher podia dar sem engravidar.
Não, não pensem que o movimento ganhou aplausos e tudo mudou de uma hora para outra.
Depois dos primeiros impactos, a bravata continuou, mais silenciosa, mais insidiosa. As fêmeas foram se infiltrando por todos os cantos, contabilizando ganhos (ainda não é uma megasena acumulada, mas tudo bem, já dá para ser dona de seu nariz sem precisar de um macho provedor).
Não vou me ater aqui a esse caminho que nós percorremos desde a década de 1960, só afirmo que não foi fácil. Meninas de hoje, nos agradeçam, se ajoelhem e nos reverenciem. Se não fosse por um bando de mulheres corajosas voces ainda estariam na idade das trevas.
Já vi de tudo com relação à tão propalada evolução feminina. Conseguimos muitas coisas, sem bem que, em alguns segmentos ainda não nos equiparamos aos homens. É provado que nossos salários são sempre menores que os deles. Por que, pergunto eu? Não temos as mesmas capacidades, as mesmas competências? Sim, temos e para minha surpresa, descobri agora que as mulheres passaram a desempenhar uma nova atividade: a de assaltantes.
Não que elas não cometiam crimes ou delitos dos mais diversos, mas sem dúvida, a população carcerária era predominantemente masculina. A mulher muitas vezes era coadjuvante, era mula, parceira de um amor bandido. Algumas perpetravam crimes bárbaros, sim, chegavam ao ponto de matar os pais ou esquartejar o marido. Mas eram fatos isolados, tão inusitados que viravam livros.
Mas agora fui surpreendida por assaltos à residências, feitos na maior cara dura, à luz do dia, por mulheres, mocinhas até, que escalam paredes, entram nas casas com a família dentro, roubam, chegam ao cúmulo de fazerem cocô, sim caro leitor, você leu direito, na calçada, saem pela porta da frente, montam em sua bicicleta cor de rosa (POODDEEE???) e vão embora não sem antes cumprimentar o morador que volta tranquilamente da padaria.
Não, meus amigos, não se trata de um caso isolado e também não aconteceu numa grande cidade. A prática, que está se disseminando muito rapidamente, acontece aqui no ainda pacato bairro da Vila real, em Balneário Camboriú. Agora vamos combinar, nossas ladras são charmosas Penélopes, que pilotam bicicletas e motos pintadas de rosa. Muito femininas, elas! Porém não se enganem, elas são perigosas, sim. Na falta de um revólver se utilizam de outra arma, se não mortal porém nojenta: o cocô.
Definitivamente meus amigos, tenho certeza que não foi para isso que queimamos sutiãs. Queremos igualdade, direitos, respeito, mas virar bandidas???
Por favor, caras colegas, desse jeito toda a luta feminista vai por água abaixo, pelo ralo, junto com o cocô que voces deixaram.
A vida está difícil? Falta dinheiro? A taxa de desemprego está aumentando? Mas isso não justifica seus atos. Sempre há alguém precisando de uma faxineira, de uma babá. Eu mesmo preciso de alguém que me ajude, não como escrava, mas como parceira. Só por favor, não me venha montada numa bicicleta cor de rosa, porque daí chamo a polícia imediatamente e você vai ver o sol nascer quadrado.A violência não leva a nada, ou melhor, leva sim, é bem provável que alguma vítima meta-lhe um tirambaço, pois na hora do desespero ninguém vai tomar ciência que você é mulher. Bandido é bandido, não importa o gênero. E tem mais, muitas coisas mudaram, porém a cabeça de alguns homens continua a mesma de 50 anos atrás. Para alguns, infelizmente, ainda cabe à mulher o cuidado dos filhos e se você for pega pela "dona justa", quem vai cuidar de seus filhos? Seu parceiro? Pode esquecer, eles não irão sequer visitar voces na cadeia.
Mulheres, pensem nisso, igualdade de direitos é uma coisa, ser bandida, é outra bem diferente.
Por via das dúvidas vou ficar mais atenta à bicicletas cor de rosa. Sabe-se lá quem a está pedalando!

sábado, 1 de novembro de 2014

APOLOGIA À DANUZA

Que  eu gosto de ler, até aí morreu o Neves. Todo mundo já sabe. Agora mesmo acabei de ler Caim, do Saramago. Confesso, fiquei com uma pulga atrás da orelha com Deus, mas isso é tema para outro post.
Hoje quero falar de Danuza, a Leão. Sabem quem é? Não? Então passem no Wipedia, que não vou fazer aqui uma biografia dela, não é esse o caso. O fato é que ela escreve. Não, jamais ela tomará o chá das cinco na Academia Brasileira de Letras, mas seus escritos são uma delícia. Já li todos os seus livros. Alguns mais profundos, onde ela conta sua vida, seus amores, a perda de seu filho. Outros mais leves, com dicas de etiqueta, de posturas, de "savoir faire".
Mas principalmente, gosto dela porque ela não tem medo de relembrar, de ter saudades do passado, de ser chamada de saudosista. Muito parecida comigo, a Danuza.
Eu também gosto de recordar o pretérito. Talvez seja a idade, o tempo passando acelerado (rápido demais para meu gosto).
Não faz muito, quando eu pensava na minha infância, invariavelmente me vinha à mente imagens pouco agradáveis ou calorosas. De uns tempos para cá, sei lá o motivo, escamoteei as tristezas para um poço bem profundo e deixo aflorar somente o que é cor de rosa, muito embora, tomar Emulsão de Scott no inverno fosse algo bem preto, um verdadeiro horror. Quem tomou sabe.Acho que foi nessa época que inventaram a bulimia, pelo menos eu. Todos os dias, após o almoço, lá vinha minha mãe com uma colher de sopa cheia daquela nojeira branca, com cheiro e gosto de peixe podre e enfiava nas nossas goelas. O intuito era nos fortificar, atravessar o inverno sem pegar nenhuma doença, porém para mim de nada servia, pois eu engolia e corria para o banheiro e vomitava. Claro, saía o remédio e tudo o que eu havia saboreado no almoço, que por sinal era sempre muito bom e farto em minha casa. Óbvio que minha mãe não entendia porque eu não engordava, ou que apesar de tudo eu sempre conseguia umas gripes que me deixavam prostrada por dias.
Bom, com relação à gordura, já disse em outro post que quase ninguém era gordo naqueles tempos de antanho. Éramos todos umas varetas, mas saudáveis. Claro, não havia TV, vídeo games, computador.
Lugar de criança era na rua. Imaginem, na rua!!! Até tarde da noite. Medos? Só do bicho-papão, da mula sem cabeça ou outros personagens que nossas avós ou babás inventavam para encher nossas noites sem luz elétrica. É naqueles idos faltava muita luz e ninguém falava em apagão.
Assim, sem rádio, televisão, sem computador, ficávamos em casa, iluminada por inúmeras velas coladas em pires ou latas. Aproveitávamos para brincar de fazer bichinhos com as mãos nas sombras das paredes. Quem ainda brinca disso?
Em dia de tempestade havia uma sensação de profundo respeito pela fúria da natureza. Todas as janelas eram fechadas (podia-se morrer de calor, afinal não havia luz e nem ventilador); os espelhos eram cobertos com tecidos para não atrair raios; não se pegava em nada que fosse de metal, também pelo mesmo motivo.
Minha tia Vivica, que praticamente morava conosco e me deixou este ano, tinha tanto medo de trovoada que quando estava sozinha em casa se enfiava debaixo da cama e ali ficava quietinha, rezando para Santa Bárbara, até passar a chuvarada.
O dia seguinte era uma beleza para nós, crianças. As ruas não eram asfaltadas, muitas ainda eram de terra e após uma noite molhada, pela manhã o barro que ficava era material excelente para se moldar brinquedos; pratinhos, xícaras e tudo o que a imaginação permitisse.
Voltávamos imundas para casa, mas o Rinso era um santo remédio para tirar a sujeira de nossas roupas. Roupas de brincar, é claro, porque os nossos vestidos mais bonitos eram só para passear e de preferência não amassar para não tirar o engomado do tecido, que nos pinicava a pele, mas nos deixava lindas, feito bonecas em vitrines.
Lembro com muita nostalgia de meus vestidos. Minha memória é de elefante e recordo até das roupas que usava quando era muito pequena, lá por volta dos meus dois, três anos. Tanto organdi, alguém conhece? cambraia, linho, veludo, entremeados com finas rendas e bordados. Minha mãe fazia questão que andássemos sempre bem arrumados e principalmente na moda. Tinha muito bom gosto, ela. E meu pai bastante dinheiro para prover nossos guarda-roupas com o que havia de melhor.
Tenho tanto para recordar! É o que farei nesses próximos posts. Lembrar. Deixar registrado um tempo que passava devagar. Hoje é claro, acontecem muitas coisas, boas e nem tão boas assim e sabemos tudo na hora. Chegamos até assistir a morte de um assaltante ao vivo. São tantas as informações que torna-se impossível registrar tudo o que vivemos. Mal lembramos o que engolimos ontem no almoço, afinal foi tão rápido,precisávamos trabalhar,mas por incrível que pareça, até agora guardo na boca o sabor de uma sopa de milho que Aurora, nossa cozinheira fazia com maestria. Nunca mais provei nada igual. Aliás, duvido que as crianças de hoje sejam tão felizes quanto nós fomos. Não éramos presas em torres altíssimas, não fazíamos uma infinidade de aulas, podíamos circular de bicicleta por toda a cidade, sem receio de sermos atropeladas. E da bandidagem, medo mesmo só do bandido da Luz Vermelha, porém ele só ficava no nosso imaginário, pois acho que nunca pisou em nossa cidade.
São outros tempos e cada qual no seu cada qual. Talvez minha percepção de felicidade infantil esteja completamente equivocada, talvez seja realmente melhor que as crianças acreditem que as galinhas já nasçam embaladas e congeladas nos supermercados. Muito melhor do que ver alguém torcer o pescoço de uma penosa. Talvez.