quarta-feira, 5 de novembro de 2014

2014 ESTÁ INDO EMBORA

Foi um ano atípico. Desde que me casei, em 2001, meu marido e eu sempre tivemos planos, sonhos, metas. Nada rígido, inflexível, que nos levasse a uma depressão ou a pelo menos uma sensação de fracasso, caso não alcançássemos nossos objetivos propostos.
Não, nunca fizemos listas em nossas agendas, como muita gente faz quando inicia um novo ano.Íamos planejando à medida em que as necessidades ou as vontades iam aparecendo..
Reformar o apartamento? Vamos lá! Construir uma casinha no meio do mato, sem dinheiro? Por que não? Passávamos horas desenhando, fazendo projetos, orçamentos. Cuidar de animais de rua, abandonados? Criamos uma Ong, a Viva Bicho. Viajar na época de Natal, sem a possibilidade de encontrar um só quarto de hotel? Não foi problema, uma barraca e um bom camping resolveram e adoramos a experiência. Na verdade não havia uma programação pré-estabelecida, mas sempre estávamos envolvidos em alguma novidade, que movimentava nossas vidas, nos enchia de expectativas. Claro que muita coisa foi abortada pelo caminho, até porque a vida não tem um roteiro pronto, com começo meio e fim. É como uma novela, uma obra em aberto e muitos acontecimentos, no correr desses anos nos desviaram do curso.
Meu marido é muito calmo, geralmente pondera muito antes de fazer algo. Pensa, repensa, coça a cabeça (hábito que mantém até hoje; às vezes penso que vai arrancar o couro cabeludo), mas quando decide, decidido está. Eu já sou mais movida pelos impulsos. Se quero, quero e pronto, vou em frente, sem ter muita noção de como farei para conseguir. Vou e faço, depois pago prá ver.
Bom,mas a gente muda e durante todos esses anos de casamento fomos adquirindo um pouco das características um do outro. Ele passou a ser mais impulsivo e eu mais comedida.
Ano passado, por exemplo, ficamos sonhando e planejando nossa viagem para Gramado no Natal. Economizamos, eu tinha uma poupança sagrada de moedinhas (olha, juntei uma boa grana). Tínhamos condições de irmos para outros lugares, mas como nossos últimos natais têm sido muito sem graça e eu adoro a magia natalina, nem cogitamos outras possibilidades. Queria ver Papai Noel e lá fomos nós, serra acima, para aquela maravilha de cidade que é Gramado.
Portanto, houve um planejamento, traçamos um objetivo. Também queríamos dar uma repaginada no apartamento e conseguimos. Tudo muito certinho.Esse ano porém, deixamos tudo correr à revelia. exceto o mestrado de meu marido, que já era algo que havia sido previsto  anteriormente. De resto, deixamos a vida nos levar.
Viver ficou mais desorganizado, porém não menos bom. Entre bom senso e impulsividade, ganhou o segundo, até meu marido entrou na dança. Claro que nunca fizemos loucuras com as quais não pudéssemos arcar, mas às vezes saímos apenas para comprar uma bobagem qualquer para a casa e voltávamos com um sofá novo e olha que o nosso ainda estava em bom estado. Começamos a perceber que se antes nossa relação se fundamentava muito em primeiro sonhar e depois pôr em prática o sonho sonhado, agora  resolvemos não deixar a rotina se instalar. Cansamos da sala?  Tudo bem, mudamos o lay out, saímos sem aviso prévio e sem nem saber se vai dar certo, vamos comprando. Não fazemos nem projeto, e olha que somos designers, vamos nos deixando no levar pelos desejos do momento.
Têm dias em que eu vou dormir com uma sala e quando acordo, está tudo mudado, todos os móveis foram trocados de lugar.Insônia de marido faz isso.
Gosto disso. acho que até prefiro uma vida mais cheia de surpresas, de novidades. Sou assim por natureza. Nunca gostei de morar muito tempo num mesmo lugar. Canso do ambiente, tenho o espírito meio cigano. Óbvio que não é possível trocar de casa a cada ano, mas a decoração, ah! essa até que dá.
Mas como já disse, este ano não planejamos muita coisa. Nem sabemos como será nosso natal e reveillon. Também não me importa, deixa rolar. Sei que não iremos para Gramado, mas aonde passaremos, ainda não está decidido.
Estamos assim, à deriva, sem rotas traçadas. Mudo conforme o vento. Até um jardim comecei a fazer nas minhas varanda! E não tenho o dedo verde, muito menos qualquer intimidade com plantas, mas fui juntando um vaso daqui, outro dali e não é que está ficando bonito? Simplesmente aconteceu.
E assim é a vida: acontece. Meu marido aprendeu um pouquinho, não dá para querer estar sempre no leme, o mar nem sempre é calmo, por vezes ocorrem tempestades e alguém cai do barco.
Há perdas e ganhos, sempre, mas esse ano não vou fazer um balanço. Não quero saber de ativos e passivos mas tenho a impressão de que fecharei o ano em azul.


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