sexta-feira, 14 de novembro de 2014

RODEI MINHA BAIANA

Não sei de onde saiu esta expressão, mas de vez em quando, ela  me serve muito bem. Gosto muito também de dizer que "subi nos saltos" ou ainda, "que me espalhei".
Tudo isso serve para indicar que meu espírito foi tomado por um demoniozinho, que abri a jaula e deixei a fera sair. É quando fico braba, indignada,revoltada. Viro monstro,Não meço palavras, nem tom de voz e ai do coitado que cruzar o meu caminho, é capaz de levar uma sapatada na cabeça. A sorte é que geralmente ando de salto baixo.
Reconheço, já fui  muito pior, meu nível de tolerância ( e não tem muito tempo) era um grande e redondo zero. Hoje, admito. já alcanço o nível 5, quem sabe, seis.
Mas juro por todos os santos, venho tentando melhorar, ser mais paciente, mais gentil, mais compreensiva com as falhas, má-vontades, preguiças ou grosserias alheias.
Estou tentando ser mais zen, mas ontem, acho que nem um monge do Tibet conseguiria manter a calma. Talvez ele conseguisse se ficasse por horas recitando um mantra de exaltação à paciência.
No início da semana fui ao shopping e entrei nas Lojas Marisas para comprar umas lingeries. Acabei deixando as calcinhas de lado e me encantei com um vestidinho, coisa modesta, desses de se andar em casa, ir à padaria. Pois bem, comprei. Custou a fortuna de R$ 19.99. Como estava com pressa, (jamais saiam com seus maridos para ir ao shopping) não provei o dito cujo. Acreditei que os três quilos que já perdi me dariam o presente de comprar uma roupa tamanho M. Ai dó! Chegando em casa, vesti o bichinho e fiquei parecendo um sacolé de limão.
"No problem", vamos ao shopping e trocamos, tão fácil trocar alguma coisa, afinal, não tinha tirado a etiqueta, tinha a nota fiscal e até a embalagem.
Aproveitei, já que estava lá, para comprar as peças íntimas que estava precisando. Fui então para a fila das caixas. Loja cheia, horário de almoço e só um caixa atendendo. Chegando a minha vez, fiquei sabendo que para efetuar a troca teria que ir ao segundo andar, havia que fazer um vale-troca. No percurso até a escada já avistei uma camisolinha que era o mesmo preço do vestido. Beleza, nem precisava de nenhuma  confusão, era só devolver uma e pegar outra.
Lá em cima, outra surpresa: só uma funcionária que estava atendendo uma "velhinha", tudo por causa de uma prestação de, pasmem,. R$ 12.00.
A dita mulher virou e revirou a bolsa, sacou umas trezentas carteirinhas, uns mil boletos. Ela falando, contando seus problemas para a funcionária enquanto tentava encontrar o quê, eu não sei.
Nessas alturas eu já conhecia toda a história pregressa da senhorinha.
Já cansada, perguntei se não havia outra funcionária. Havia e ela estava chegando. Chegando a passos de cágado, mas chegando.
Bom, pensei, então agora vai. Que nada, a sujeita ficou a escutar o  lero-lero da terceira idade e eu feito uma pateta, grudada no chão.
Olhei para a parede e lá estava um cartaz que dizia: "FAZER TROCAS É MUITO FÁCIL NAS LOJAS MARISA". Fácil para quem, cara pálida?
Quando por fim a velhinha se deu por satisfeita, a funcionária "maria-mole" resolveu me atender.
"É só preencher um formulário". SÓ????? Queriam saber tudo a meu respeito, documentos, endereço, profissão, o que eu havia almoçado, a cor da minha calcinha, etc...etc... e etc...
Nesse ponto minha cara já estava pink e uma baba branca e gosmenta começava a sair dos cantos da minha boca.
Enfim consegui o tal vale e ao me dirigir ao caixa já peguei a camisola.
Novamente outra velhinha na minha frente e de novo, encrencada com carteiras, bolsinhas, porta-moedas, zilhões de papeis. Pressa? Realmente, a criatura não conhecia a palavra. Respeito por quem está na fila atrás de você? Prá quê? Você que espere, ora bolas!
O demônio estava começando a sair de mim e o primeiro sinal é uma coceirinha na cabeça; o segundo sinal é a queda de meus cabelos e o terceiro, bem esse só uma peruca daria jeito.
Antes que eu arrancasse minhas madeixas, perguntei para a velhinha se ela trabalhava. Não, não trabalhava. Mas eu estava cheia de compromissos e a fila atrás de mim só aumentava.
Depois dela ter espalhado tudo o que havia em sua bolsa sobre o balcão resolveram chamar outra funcionária, a mesma maria-mole que veio com os mesmos passos de cágado e a mesma disposição e boa vontade. De pink fui ficando rubra, principalmente porque a criatura queria saber se era para debitar a minha troca no cartão, junto com o que eu havia comprado.
COMO ASSIM??? Já estava pago era só  cobrar as outras peças. Eu já estava fazendo esculturas no meu cabelo, peguei umas tamancas, subi nos saltos e rodei a baiana, gritando a plenos pulmões.
CHAMA O GERENTE DESSA BOSTA!!! Minha educação, minha gentileza, minha tolerância tinham ido para o esgoto mesmo, então meu vocabulário poderia fazer parte da cena.
Larguei tudo, falei um monte de impropérios, inclusive que aquela pamonha, que trabalhava com tanto gosto, se eu tivesse trabalhado como ela, hoje não teria dinheiro para comprar um grampo.
Saí da loja feito um furacão, sem levar nada, mas no caminho pensei: a camisola já está paga. Voltei, me meti no meio da fila, cacei minha camisola e com ela debaixo do braço, ganhei o corredor do shopping literalmente espumando de raiva. Cachorro com hidrofobia perto de mim era pouco.
Por que escrevo sobre isso? Porque eu trato todo mundo com respeito. Se estou numa fila, já tenho em mãos o dinheiro ou cartão ou documentos, tudo para não atrasar quem está atrás de mim.
Mas ninguém conhece mais essa palavra ou esse gesto. A única linguagem que as pessoas parecem compreender é a da baixaria. Sei que é feio, mas paciência tem limites e educação também
De tudo, entre outras coisas, valeu o aprendizado: LOJAS MARISA NUNCA MAIS!!!
Vão atender mal assim lá nos quintos dos infernos.

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