Tão pouco abri meu face. Sempre tem algum assunto bárbaro que alguém posta. Recusei. Nada quero ver, saber ou ouvir que não seja gentileza, fluidez, delicadeza.
Há algum tempo venho cogitando em me dar de presente um período sabático, alguns dias apenas.
Não posso viajar e ficar isolada, como gostaria, mas posso sim, me manter alienada, posso passar ao largo das mazelas e fingir viver num mundo mais suave. Só alguns dias, não mais.
Assim lhe dou "bom dia", com um sorriso e a certeza de que será mesmo "bom. Sorrio e lhe convido para entrar e tomar uma café quentinho, servido em louças de porcelana, pintadas lindamente de azul e dourado que pertenceram à minha avó.
Estão sobre uma toalha de de linho branca, bordada. A sala recende à lavanda e minha pele tem o cheiro do sabonete Alma de Flores.
Parei o relógio na parede, não quero saber as horas.
Meu desejo é apenas me deliciar com o pão recém-saído do forno, degustar as geleias, os petit-fours, o leite que o leiteiro deixou em uma garrafa de vidro na minha porta, as frutas que colhi de meu pomar.Não vou pensar em dieta, ou em horário, desfrutarei, sentada na cadeira da sala de jantar, tanto as guloseimas quanto de sua companhia.
Então lhe elogiarei o seu vestido rosa, leve e suave. O seu cabelo lindamente trançado, a sua pele levemente colorida com carmim . Haverá calma em cada gesto, em cada palavra. Falaremos sobre amenidades, sobre como estão viçosas as plantas que estou cultivando em minha varanda, sobre a trepadeira que cresce cobrindo a parede. Não arranco dos vasos nem aquelas plantinhas que são chamadas de "matinho". Quero-as todas, deixo-as crescerem livremente.Também há beleza nelas.
Depois do café, sentaremos lá fora, em cadeiras de vime, com almofadas com estampas claras e leremos algumas poesias, saboreando um refresco, pois já faz calor. Sobre a mesinha não existem jornais, e revistas, somente as que trazem as últimas novidades da moda.
Um pouco mais tarde, sairemos, levaremos sombrinhas coloridas para nos proteger do sol e não macular nossa tão alva pele. Vamos simplesmente flanar sem pressa, admirando as vitrines, observando as crianças se dirigindo para as escolas, com seus uniformes de antigamente, suas pastas de couro e suas lancheiras.
Abri meu álbum. Um álbum de um tempo que não vivi, mas posso deixar a imaginação fluir e imaginar como era. Um tempo de delicadezas. Um bom dia para você!
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