quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

TUDO O QUE POSSO OU NÃO FAZER

                                           SOS!! HELP!

Não, não acredite que viver com Parkinson seja mole. Há dias em que você pensa que vai enlouquecer, de verdade. A incapacidade de realizar algumas ou a maioria das atividades comuns,de forma adequada, nos deixa de cabelos em pé.
Você quer, você tenta, mas quando os pequenos desastres vão se acumulando, um atrás do outro, ao final do dia fazem com que você se sinta como se tivesse sobrevivido a um terremoto, um tsunami, uma enchente, ou qualquer situação do gênero. Você está literalmente estressada e à noite, tudo o que se deseja é poder dormir o sono dos justos. Dormindo você não faz bobagens. Quer dizer, nem sempre.
Eu sempre tive problemas de sono. Seja por sofrer de insônia, seja por ser sonâmbula, ou ainda falar. Noite dessas acordei meu marido enfurecida. Sentada na cama, porém dormindo, gritava a plenos pulmões: "não quero ser uma mulher de varde!, Não quero ser uma mulher de varde"! Queria dizer sim, na linguagem popular, que não me apetecia ser uma mulher vadia, que ansiava ser como era antes, ativa, produtiva. Acho que isso está sempre na minha cabeça, o medo de ficar dependente de alguém, de me tornar incapacitada.
Mesmo sabendo que controlo meus sintomas com remédios ou exercícios, tenho a plena convicção da incapacidade futura, tenho a certeza de ter que contar com a ajuda valiosa de alguém que faça o meu viver possível.
Hoje meus sintomas ainda são leves,  a medicação diminui bastante os tremores e a falta de equilíbrio, porém não sei explicar se por querer não errar ou mesmo porque não consiga, esbarro em praticamente tudo. Minha casa é um campo minado, como se cada móvel ou parede fosse uma bomba prestes a disparar.E o alvo sou sempre eu. Vivo cheia de manchas roxas e pequenos machucados pelo corpo. Uma das providências que tomei foi a de tirar a maioria dos tapetes. Era infalível "tropicar" neles, pois os pés não atendem ao meu comando e sempre  tropeçava e muitas vezes acabava caindo.
Têm dias que cansa, que bate um desânimo, vontade de chorar, de me descabelar. Fico revoltada, irritada, de mal com Deus e com o mundo. Maldita, maldita doença!
Sinto-me mais cansada do que outra pessoa, caminhando, por exemplo. É que eu tenho que fazer um esforço muito maior e levo muito mais tempo para chegar aonde quero ir, além de ter que estar com a mente sempre alerta, não posso me descuidar e simplesmente passear, olhar vitrines despreocupada. Meus olhos precisam estar sempre atentos a qualquer desnível das calçadas. Dessa forma, fico sempre dependendo do meu marido, pois com ele ao meu lado sinto-me mais segura. Numa emergência ele sempre me carregará no colo, o problema é que homem não é muito a fim de ver vitrines, então não posso simplesmente ficar flanando pelo shopping. Assim, quando preciso comprar alguma coisa, assumo todos os riscos e vou sozinha mesmo. E vou levando. Não há outra maneira.
  

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