terça-feira, 2 de dezembro de 2014

O SOM DO SILÊNCIO

Já em posts muito antigos, de outros blogs que já tive no decorrer desse tempo, muito já falei sobre nossas viagens. Contei em detalhes todas as nossas experiências, ou falta delas, como no caso de nos tornar campistas já com uma idade um pouquinho avançada. Contei dos nossos fracassos, do frio intenso, da enchente que alagou a barraca em plena noite, do meu tombo em frente à Catedral de Canela.
Não vou repetir.
Começo da surpresa, uma das tantas que vivi neste aniversário.
Sou como "rapaz pequeno", como se diz por aqui. Quando chega alguma época, como aniversário, Natal, dias das mães, fico enlouquecida para saber o que vou ganhar de presente. Deixo meu marido quase louco. Quero saber o que é, se é para vestir, para comer, para decorar, para perfumar, se é grande, se é pequeno e por aí vou, até que venço pelo cansaço e não raro acabo por ganhar o presente antes da data prevista. Faço o mesmo quando vou presentear alguém: nunca consigo dar o presente no dia certo, presenteio sempre antes.
Este ano, certa noite, já na cama, comecei minha cantilena. Pergunta dali, pergunta daqui, até descobrir que o meu presente seria para "desfrutar". Pronto, descobri. Meu presente seria ir para Gramado.
Diferente de todos os anos, nosso Natal será em Lages, com a família de minha sogra. Anda havia a possibilidade de irmos após as festas, mas já não encontramos lugar. Tentem nessa época encontrar um quartinho que seja, uma casinha no sopé da serra, um viaduto para lhe abrigar. Tudo está lotado e o pouco que sobra, bem, o bolso não pode pagar.Nosso camping está em reforma, então começamos a batalha de achar um hotel ou uma pousada. Garanto, não foi fácil. Por fim, encontramos uma pousada em Nova Petrópolis, cidadezinha que fica a trinta quilômetros de Gramado.
Não era uma perspectiva muito agradável. Já havíamos passado por lá, não achamos nada de interessante; cidadezinha anônima que se achava no direito de ser chamada de "jardim da serra" e a pousada também não parecia ter maiores atrativos, além do que, teríamos que nos deslocar todos os dias até Gramado.
Ai Jesus, quanto engano!! Como nossos olhos podem, por vezes, enxergar apenas a superficialidade das coisas.
A primeira impressão que tivemos ao chegar, foi que tínhamos ido parar na Alemanha. A cidade é um encanto. Não, lá não existe a exuberância de Gramado ou Canela, mas tem a sensação de abarcar em si o total conceito da palavra PAZ.
Não há multidões; poucos turistas vão para lá. Sim, a cidade está enfeitada para o Natal, mas com discrição, delicadamente, como tudo por lá, aliás. Achei sem querer a definição para descrever Nova Petrópolis: suavidade.
Na Pousada, chamada de Mika's, uma casa em estilo alemão (não podia ser diferente), não fomos recebidos por funcionários treinados por alguma escola de hotelaria. Fomos acolhidos, por uma moça simpática, genuinamente agradável. Havia calor em seu acolhimento. Era Magali.
Não havia luxo, mas tinha todo o necessário para uma estadia tranquila.
Fica no fim de uma rua de nome alemão (claro!), com um bosque ao lado e é administrada pela família.

Pertinho da área central, portanto podíamos flanar a pé pelas ruas ou quem sabe pegar uma bicicleta oferecida pela pousada, fizemos passeios inesquecíveis pelas redondezas.
Sim, eu me redimo: Nova Petrópolis é verdadeiramente o jardim da serra. Para onde você olhar, o que verá? Flores, muitas flores.
Bem no coração da cidade, fica o Parque do Imigrante. Algumas lojinhas, um museu, um restaurante típico, um lago cheio de carpas obesas, um bosque e um bandinha tocando músicas alemãs.
Há também uma calmaria de vozes, a impressão que se tem é que ali até o silêncio da natureza é respeitado. Acho que é para permitir que os pássaros apresentem os seus shows.

Nos permitimos a proeza de apenas "ficar", de sentir, de vivenciar a tão esquecida paz.
Certa tarde, enquanto meu marido descansava, saí sem rumo. Fazia bastante calor durante o dia.
De repente fui tomada de um susto: não sabia onde estava. Não, não estava perdida, estava em outro mundo. No meio de uma cidade, não consegui ouvir um só barulho. Voces sabem, nossos ouvidos não estão mais acostumados a isso. Pensei: fui abduzida, perdi o senso da realidade. Nem carros, nem buzinas, tão pouco gralhas humanas falando em altos berros. Nada. Som? Só do silêncio.
Gente, há quanto tempo eu não ouvia o silêncio? É algo tão estranho que parece que você caiu num vácuo, dá até um pouco de medo  ouvir que você respira, que seu coração bate.
Outro susto: ainda existe gentileza neste planeta. Em qualquer lugar que você entre, lhe acolhem com alegria, com calor, com sorrisos sinceros. Conversam, querem saber de você, não para fazer fofocas, mas para saber quem você de fato é e a conversa fica tão boa que você acaba por esquecer o que o levou até lá.
Na Pousada não era diferente. Poucas pessoas trabalhando, mas tudo em ordem, limpo, acolhedor.
Simone, acho que a proprietária, uma querida. Vai casar essa semana, com um austríaco que acredito, já deve ter chegado, para sua felicidade. Acho que ela só não compreendeu como é que eu, sendo de origem alemã não falo quase nada do idioma. Penso que foi realmente uma pena meu pai não nos ter ensinado, porque daí sim, eu estaria realmente no meu lugar no mundo.
Não, por favor, não pensem que desdenho o lugar onde vivo. Gosto daqui, nasci e cresci em Santa Catarina e morei grande parte da vida em Blumenau. Há anos estou em Balneário Camboriú. Sim, também tem seus muitos encantos, mas creio que não combina mais  com a introversão que a maturidade vem trazendo gradualmente.
QUERO OUVIR O SOM DO SILÊNCIO!!!!
Quero poder andar pelas ruas sem medo de ser assaltada, de ficar presa em congestionamentos, de esbarrar em hordas de turistas que infelizmente detonam com minha cidade. Aqui, principalmente no verão, a cidade cheira a lixo, a xixi, a restos de cervejas e as ratazanas à noite, disputam lugar com você nas areias da praia.
Lá, eu só tinha que disputar espaço com alguns sapos coloridos, que todas as noites nos esperavam no portão. Sapos educados, diga-se de passagem. Lindamente salpicados de amarelo (seriam sardas?), ficavam imóveis, em nenhum momento tive medo que pulassem nos meus pés. Não sei em que brejo estudaram, mas eram tão gentis que nem coaxavam para não perturbar nosso sono.
No dia do meu aniversário ganhei um strudel (sei que se escreve diferente, mas não sei escrever em alemão), um doce típico, de maçã, no café da manhã e de noite, quando voltamos de Gramado, em cima da cama havia dois pacotinhos de bolachas caseiras e um cartão carinhoso me desejando felicidades. Ali tive a certeza que a DELICADEZA mudou-se definitivamente para Nova Petrópolis!
Lendo o que escrevo posso ter dado a impressão e que a cidade não oferece outras atrações. Outro engano. Tem um bom comércio e um restaurante divino, o Colina Verde, que como já diz o próprio nome, fica numa colina, óbvio, de onde se tem uma vista deslumbrante e serve uma comida alemã, lógico, deliciosa. Recomendo, mas cuidado, faça antes sua dieta de faquir. Minha descendência germânica se atracou com o chucrute, com o eisebein, com as salsichas, tudo regado a um suco de uva rosé simplesmente inexplicável. Podia tomar um barril inteiro.

Passei quatro dias de prazer absoluto e me entristeci na hora da partida. Queria ficar. Vou ficar, porque  um dia, após nossa aposentadoria é para lá que iremos.
Ah! e ainda neva!!! Pode ser melhor???

 PS: Simone e Magali, nosso muito obrigada. Voces não existem! Ah! por favor, mande as fotos do casamento e tenha uma lua de mel maravilhosa. Beijos e até o ano que vem. Nos esperem, já deixem nosso quarto reservado!
Simone e eu, na hora da partida!

Um comentário:

  1. Adorei nossa foto...salvei em meu computador... Vocês são demais...muito queridos!
    Voltem sempre... a casa está a disposição...
    Grande abraço...

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