quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

RELATOS PARKINSONIANOS - A EVOLUÇÃO

Aos poucos os tremores foram se acentuando, a mão direita começou a se fechar em concha, e ele a mantinha sempre nas costas. Mas este não era o pior sintoma. Ele começou a ter dificuldade para caminhar, para entrar e sair do carro; as pernas não lhe obedeciam, ele tinha que segurar e erguer os joelhos. Também começou a apresentar uma postura voltada mais para a frente, mais curvada.
Naquela época eu já tinha certeza do diagnóstico, mas ele, diferente de quando enfartou, se recusava a crer, a procurar um médico. Eu morava e trabalhava em Curitiba e consegui, com muito custo que ele fosse para lá, se consultar com um especialista. Apesar do médico  ter tido a certeza do que se tratava só de fazer uma anamenese, ainda assim, submeteu-o a uma tomografia, que só veio a confirmar o que já  sabíamos: ele realmente estava com Parkinson.

Como já sabemos, não tem cura, mas tem remédios que controlam a sintomatologia, tratamentos fisioterapêutcios e até uma cirurgia para diminuir os tremores. Por aqui não era feita, somente em São Paulo ou Cuba. Mas ele preferiu começar o tratamento medicamentoso em Blumenau mesmo. Meu pai era um homem determinado e mesmo apesar ter me dito aquela frase de "que era um homem morto", não se abateu com facilidade.
Continuou seu trabalho, participava ativamente dos Jogos Abertos, dirigia, tinha uma rotina quase que normal.
Minha mãe nunca fora uma pessoa particularmente paciente com relação a tratar de doentes, nem aos filhos ela dedicava muita atenção ou mimos, mas no caso de meu pai, devo dar a mão à palmatória: ela teve uma extrema dedicação para com ele. A doença seguia seu curso  muito rapidamente, os remédios não surtiam o efeito desejado. Assim, logo chegou o ponto dele não conseguir abotoar uma camisa, pentear devidamente os cabelos, cortar um alimento. Ela tudo fazia e contava com a colaboração de uma secretária, na Fundação Municipal de Esportes que o ajudava, dando-lhe os remédios nas horas certas, ajudando-o quando viajavam para alguma competição.
Geralmente é receitado Prolopa e ele tomava, mas realmente, ela por si só não resolvia muito, então ele, que tinha um primo médico em São Paulo, que havia sido diretor por muito tempo do Hospital das Clínicas  (o maior da América do Sul), resolveu procurá-lo. Lá, atendido por um neurologista, teve a medicação  modificada e foi aconselhado a se submeter a uma esterotaxia (falarei mair tarde sobre isso).
 Voltou Para Blumenau mais animado e claro, com seu indefectível bacalhau e suas azeitonas.
Mas os novos remédios traziam uma série de efeitos colaterais. Após tomá-los sua cabeça perdia completamente o equilíbrio. Ficava balançando de um lado para o outro, como de fosse despencar do pescoço a qualquer momento. Era horrível de ver. Levava mais ou menos uma hora para passar. Os tremores assim como a dificuldade de  motricidade, também não diminuíram.
Vê-lo comer estava cada vez mais complicado.Havia a necessidade de se colocar um guardanapo no pescoço para lhe proteger a roupa, como um bebê. O caminho do garfo até a boca era como uma dança descoordenada e sopa só com ajuda de minha mãe, senão tudo ficava pelo caminho.
Também as funções intestinais ficaram comprometidas. É comum a obstipação, ou seja, a dificuldade para evacuar, porque os intestinos começam a ficar mais preguiçosos. Muitas vezes era obrigado a tomar algum laxante. Nesse período passou a dormir em outro quarto, pois cada vez que precisava se virar na cama era necessário se sentar para mudar a posição e isso acabava por acordar minha mãe.
Por fim, capitulou. Resolveu operar. Poderia ter ido para Cuba, ou operado em algum hospital particular  em São Paulo, que também fazia a cirurgia, mas achou por bem ir para os Hospital das Clínicas, pois lá tinha seu primo e uma equipe considerada altamente capaz.
Sei que talvez seja maçante ler o que escrevo e que para muitos o assunto pode não ter valia, mas creiam, ninguém, ninguém mesmo está livre e penso que, quanto mais informado se está, mais condições se tem para enfrentar a doença, É triste, sim, é. Principalmente porque a tragédia se fez e devastou completamente minha família.

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